Você já ouviu falar sobre “moeda social”?
Moedas sociais circulam por todo o Brasil e impulsionam economia das comunidades
Se engana quem pensa que o Real é a única moeda em circulação no Brasil. Além dele, existem centenas de outras, chamadas de moedas sociais, já muito usadas em diversas regiões do país.
Neste artigo você vai entender melhor sobre essa economia alternativa e o impacto que ela causa em pequenas comunidades. Acompanhe.
O que é a moeda social
A moeda social é o meio que viabiliza a prática da economia solidária. Ela possui características específicas que a diferem da “moeda normal” e pode ter algumas diferenças dependendo do local de origem, pois existem diferentes modelos em países como Quênia, França e Japão.
As moedas sociais não substituem as moedas oficiais, ou seja, exercem uma função de complementaridade e tem como objetivo melhorar a vida dos habitantes locais, produzindo trabalho, serviços e bens, limitando-se à comunidade na qual foi instituída. Todo o processo de produção, distribuição e funcionamento é estabelecido pela própria comunidade, que troca parte do salário recebido em reais (ou na moeda oficial do país) pela moeda social.
Além disso, no Brasil, as moedas sociais são lastreadas em reais. Isso significa que para cada unidade da moeda social posta em circulação, o banco comunitário deve possuir o equivalente em moeda oficial para garantir e facilitar o entendimento das transações.
Por exemplo, 1 Palmas (moeda social do Conjunto Palmeiras) corresponde a 1 Real. Elas também não possuem a assinatura dos presidentes do Ministério da Fazenda e do Banco Central (BC) e não são fabricadas pela Casa da Moeda, mas pelos Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCD). Apesar disso, fisicamente, elas se parecem com as moedas convencionais, sendo impressas em papel moeda e com elementos de segurança.
Hoje, as mais de cem moedas sociais em circulação no Brasil movimentam mais de R$ 6 milhões por ano, seja em crédito produtivo ou em meio circulante físico. Esse universo compõe o sistema financeiro solidário brasileiro ou as chamadas finanças solidárias. Os bancos comunitários são a principal forma de fomento e financiamento de milhares de empreendimentos solidários, urbanos e rurais.
O impacto da moeda social na vida das comunidades
Em 2017, o total da movimentação das moedas sociais no país foi de mais de 6 milhões de reais, tanto em crédito produtivo quanto em meio circulante físico, compondo o chamado sistema financeiro solidário.
O apoio dos bancos comunitários é fundamental para o avanço na renda, na qualidade de vida e no desenvolvimento. Na prática, tem-se vários exemplos. O banco responsável pela moeda digital Mumbuca, na cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, conquistou um edital da prefeitura da cidade para distribuir a bolsa-mumbuca, uma espécie de bolsa-família local, na forma de e-dinheiro. Essa experiência já dura mais de 8 meses, possui mais de 5 mil usuários cadastrados e gera um volume significativo de dinheiro, que passa a casa de um milhão de reais em compras locais, utilizando a plataforma do banco.
Os projetos do Banco Palmas são financiados por diversos parceiros ao passo que o Instituto Palmas participa de editais de várias entidades públicas e privadas.
Outro projeto importante é o “Elas”, implementado para as mulheres beneficiárias do Bolsa Família, o qual envolve a parceria de várias instituições como a Senaes/MTE, a Caixa, o Governo do Estado do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza, com o objetivo de agir em prol da promoção, educação e do acompanhamento das mulheres, tomadoras de crédito do Banco Palmas, para a inclusão e emancipação financeira e bancária das mesmas. Elas podem, uma vez por semana, participar de um curso sobre educação financeira.
O Banco possui, ainda, uma moeda social voltada apenas para as crianças do local, a Palminhas, com a finalidade de fazer com que elas conheçam a história da comunidade por meio da moeda e de incentivar o empoderamento infantil e a cultura da solidariedade.
Por outro lado, para os representantes do Banco Palmas e para os criadores da moeda, parece que a Palmas já cumpriu seu papel de fazer com que as pessoas consumissem no bairro, visto que sua circulação tem diminuído. Um dos motivos é a concentração do volume de Palmas no único posto de gasolina do bairro, que foi, em 2012, de 81%. Isso mostra que a grande parte das Palmas recebidas pelos empreendimentos locais eram usadas para abastecer automóveis e motos, encurtando o circuito monetário.
Mesmo assim, esta situação não tira a importância do uso das moedas sociais como um mecanismo, ainda que temporário, para estimular o consumo interno e a valorização do local. No Conjunto Palmeiras, mesmo com a diminuição do uso das Palmas, o nível de consumo se manteve elevado, entre 93% e 95% dos moradores, segundo o mapeamento da produção e do consumo empreendido pelo Banco Palmas.
Por meio de moedas alternativas fica mais fácil pensar em modelos de autofinanciamento. A população passa a ser capaz de ter sua própria produção e cria-se um modelo que permita que o consumo local seja financiado pelas próprias comunidades.
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